quarta-feira, 9 de maio de 2012

Conto: O Moderno Einherjar


Um conto romântico - ou não - para vocês! Espero que gostem :3


Estava deitada em meio ao bosque quando o vi.
Alto, robusto, moreno, um homem apareceu como se surgisse do nada. Caminhava lentamente olhando ao redor como se há muito não visse o sol ou as árvores ou então sentisse o cheiro matinal. O observava ainda deitada em meio às folhas secas.
Quando o sol encontrou sua face pude ver claramente seu rosto e prendi a respiração. Era marcado por cicatrizes de todos os tamanhos e tipos, uma lhe cortava da boca a orelha esquerda, outra lhe passava rente ao olho direito, outra menor sobre o queixo. Tinha várias outras delas menores, que fui perceber somente depois. Possuía lábios vermelhos, um rosto duro, com a barba a fazer e olhos cinzentos e profundos.
Era o homem mais bonito que já vi.

Permaneci deitada enquanto ele se aproximava, não consegui me mexer ou falar algo para chamar a sua atenção. Tive medo de que me visse. Ao mesmo tempo em que era um ser completamente maravilhoso temi que não fosse humano. Poderia algo como ele, tão fora do cenário, ser uma pessoa comum?
Então ele me encontrou em meio às folhas. Observei sua expressão passar de calma e feliz para uma incógnita, mas ela logo mudou para um sorriso e ouvi pela primeira vez sua voz calma e grave:
— Olá – postou-se ao meu lado enquanto permanecia deitada sem conseguir proferir uma palavra sequer.
— Você fala? – ele continuou. Sentei-me retirando as folhas do cabelo. Possuía cabelos loiros ondulados e olhos claros o que faziam as pessoas me compararem a uma boneca de porcelana. E como eu odiava essa comparação.
— Olá – foi tudo o que consegui dizer. Ele sorriu de novo e fez menção de querer continuar sua caminhada dentre o bosque observando tudo ao seu redor como se tivesse nascido ali, naquele momento. Outro temor me preencheu: não queria que ele se fosse.
— Quem é você? – perguntei e consegui o que queria. A atenção estava de volta para mim.
— Hmm... vejamos, você pode me chamar de Einherjar, em uma versão moderna, é claro.
— Einherjar? O que isso significa?
— Significa que fui escolhido. Escolhido por uma bela mulher.
— Então é casado?
Dessa vez ele gargalhou:
— Longe disso menina. Não fui escolhido por meu exterior, mas por meu talento.
— Que talento?
— De ser um exímio assassino – ele sorriu novamente ao proferir essas palavras e por um momento tive medo. O que poderia fazer se ele me atacasse? Estava sozinha em um bosque longe da civilização, não havia avisado a ninguém onde estava, porém olhei para seu rosto e ele parecia tão calmo, tão gentil que nada fiz a não ser perguntar:
— Então você é um assassino?
Ele levantou uma sobrancelha e percebi que ele esperava que eu corresse e gritasse, e ao imaginar tal cena foi minha vez de sorrir.
— Qual seu nome menina?
— Amanda.
— Amanda, o que você acha de um pequeno passeio? – ele estendeu sua mão a qual aceitei com agrado.
Caminhamos pelo bosque, de início calados enquanto ele se deliciava com a paisagem:
— Gostou do bosque? – perguntei.
— É maravilhoso. Há muito tempo não via um.
— Não existem bosques de onde vem?
— Não. Lá os bosques são de concreto.
— Então é um assassino da cidade.
— Podemos dizer que sim.
— O que o traz aqui no interior no meio de um bosque?
Ele me olhou e por um instante pensei que me beijaria, mas logo desviou o olhar respondendo minha pergunta:
— É minha recompensa. O Ragnarok, o fim do mundo, está próximo. É onde terei de lutar ao lado de meus irmãos.
— Além de assassino me parece um tanto louco.
Ele voltou a gargalhar:
— Mas recompensa maior foi ter encontrado tal beleza em meio a tantas outras.
Olhava-me ao dizer tais palavras e enrubesci. Ele acariciou meu rosto e senti que se aproximava. Tocou levemente meu queixo, conduzindo meus lábios em direção aos seus. Então o beijei. E apesar de pensar que ele seria rude, seus lábios se mostraram macios e o beijo me envolveu fazendo-me esquecer minha vida conturbada e imaginar como seria parar tudo, ali naquele instante.
Quando vi seu sorriso mais uma vez percebi que estava apaixonada. Era ridículo dizer-se apaixonada por um homem que acabei de conhecer e que se dizia um assassino, mas, ao mesmo tempo, era ridículo não se apaixonar.
— Sinto que você é um presente de Odin. Encontrar-lhe antes de uma batalha tão sangrenta não pode ser nada além de um presente.
Pouco entendi do que disse, mas concordei com um aceno.
Senti que suas mãos acariciavam meu corpo e gemi.
Estava prestes a me entregar para um homem do qual não sabia o verdadeiro nome, que dizia ter de participar de uma batalha sangrenta. Um homem que nunca vi antes em meio aquela cidade pequena. Tantos outros neguei o que aquele homem estava por ganhar.
Deitei-me novamente na grama e ele me acompanhou. Acariciou levemente meus seios enquanto retirava minha blusa. Os beijou enquanto eu respirava ofegante. E quando me penetrou todas as coisas foram esquecidas e me entreguei completamente.
No final, não sabia quantas horas permanecemos ali, deitados num ritmo constante enquanto fazíamos algo que não podia ter outro nome além de amor.
Percebi que já era tarde e meus avôs poderiam vir ao bosque me procurar. Levantei-me e me vesti enquanto o Einherjar observava-me.
— Tenho de ir, mas, você vai estar aqui amanhã?
— Veremos – disse ainda sorrindo e por mais que estivesse com grande medo de nunca mais vê-lo, soube, senti que o veria novamente.
Caminhei para casa com um sorriso no rosto enquanto cantava claramente feliz.
Cheguei por volta da hora do almoço e sabia que teria problemas, pois havia saído antes mesmo do desjejum. Se ainda vivesse com meus pais, não estaria preocupada, porém eles estavam mortos, infelizmente, e me foi reservado o destino de viver com os pais de minha mãe.
Minha avó já estava parada do lado de fora certamente me aguardando. Ela costumava bater-me, mesmo com meus dezenove anos. Achava que fui criada porcamente e precisava de correção. Como esperado, ela carregava uma vara afiada em uma das mãos.
Ao ver-me fechou a cara e caminhou em minha direção, a vara em punho:
— Onde estavas?
— Fui ao bosque pela manhã e deitei-me para apreciar o céu. Acabei por cochilar.
Ela aproximou-se ainda mais e percebi que procurava algo, qualquer coisa para ter motivo de fazer-me mau.
— De quem é este perfume? Sei que não é seu.
— Que perfume? – mas ao fingir que não sabia ela acertou meu rosto com a vara.
— Não tente me enganar! Você estava com um homem, não estava? Eu sabia que não foi criada direito, que se tornaria uma prostituta!
E então me bateu novamente dessa vez nos braços. Aguardei que ela terminasse, enquanto tentava não chorar, pois sabia que era exatamente isso que queria.
Vi que meu avô chegava e olhava-nos, mas nada fez.
Senti um ímpeto de agarrar a vara e quebrá-la, ou pior, de revidar, mas tinha medo do que isso poderia causar.
Depois de tudo, fui para o meu quarto sem ter direito ao almoço.
No dia seguinte acordei antes de todos e roubei alguns pães na cozinha. Encaminhei-me ao bosque rapidamente. Chegando lá, nada encontrei e o desespero me preencheu, mas logo senti que alguém se aproximava e ao virar deparei-me com o homem sorrindo. Sorri de volta e corri para seus braços.
Conversamos durante muito tempo em meio ás carícias. E depois, quando estávamos nus, perguntou-me sobre as marcas, o que me fez mentir. Soube que não tinha acreditado, mas não gostaria que soubesse da verdade.
Antes de nos despedirmos ele comentou:
— Amanda, se nosso encontro lhe causa problemas, não acha melhor pararmos?
O abracei dizendo-lhe que estava tudo bem e abraçou-me de volta.
Não me impressionou a visão de minha avó com a mesma vara em mãos quando cheguei a casa.
Odiava-os, meus avôs. Não tinha qualquer sentimento em relação a eles, para mim, nada significavam. Decidi que no próximo encontro não voltaria, iria embora com o Einherjar para onde quer que fosse.
Na outra manhã, a velha acordara cedo com o intuito de vigiar-me. Porém era lenta e cansada e consegui escapar facilmente. Saí de casa com o pensamento de nunca voltar.
Encontrei meu amor no mesmo lugar de sempre. Sorrindo. Aguardando-me. Deitamo-nos e fizemos amor no mesmo ritmo calmo e acalentador.
Ainda nua, deitei em seus braços suados sentindo sua respiração:
— Sabe, os Einherjar batalham durante o dia, treinando para a batalha contra Loki e seus gigantes repugnantes. Durante a noite, nossos ferimentos são curados. Porém nada poderá curar a dor que sentirei em lhe deixar.
Ao ouvir aquilo senti tal aperto no peito que pensei que não poderia respirar.
— Você irá embora? – o olhei e vi pela primeira vez em seu rosto a tristeza.
— Tenho de ir Amanda. Os dias que passei com sua presença foram um presente. Porém, agora tenho de ir.
— Oh, por favor, não vá, e se for, leve-me com você – senti as lágrimas descerem pelo meu rosto.
— Amanda, não poderia dizer-lhe que te amo se a levasse comigo. O destino que carrego é sangrento e cruel.
— Nunca mais hei de vê-lo?
— Acredito que encontrará comigo novamente no palácio de Odin, Valhala. Carregas uma beleza única que nunca vi em uma humana, desconfio que tenha sangue de Valquíria. Sendo assim, encontraremo-nos novamente e ficaremos juntos, para sempre.
Tais palavras não me consolaram e continuei a chorar.
Ele secou minhas lágrimas e me abraçou enquanto cantava uma música em uma língua que não conhecia, porém não precisava entender o que dizia para saber que era uma canção de tristeza e sofrimento.
Envolvida pela canção e pelo choro, dormi em seus braços.
Quando despertei estava mais uma vez sozinha, deitada em meio ao bosque como se nada tivesse acontecido, como se tudo não passasse de um sonho. A única coisa que me fazia ter certeza de tudo fora real era o fato de ainda estar nua.
Vesti-me calmamente enquanto o sol se despedia. Ainda pude sentir seu cheiro em meio ás minhas roupas e chorei. Chorei desesperadamente como se me tivessem arrancado uma parte de mim, como se ao se for, ele tivesse levado consigo meu coração. Caminhei de volta a casa em meio aos prantos.
Quando estava próxima, lembrei-me da promessa feita a mim mesma de nunca mais voltar. Por um momento pensei em fugir, em viver uma vida proscrita. Mas o que faria? O Einherjar era tudo que tinha, o único homem que amei e agora ele se fora com a promessa de nunca mais retornar, pelo menos, não nessa vida. Decidi retornar para casa e lá decidir o que fazer.
A velha senhora estava em seu posto, aguardando-me com a arma em mãos. Sentia-me fraca. Nada havia comido e o sol já se despedia. Porém não associei a fraqueza com a falta de comida, tudo o que sentia falta era do Einherjar.
Teria de vê-lo novamente, nem que fosse só por uma vez.
Minha avó a me ver chorar não hesitou em ralhar comigo por sumir durante o dia inteiro. Ao ver aquela velha reclamar e gritar, sem ouvir absolutamente nada, soube de imediato o que fazer para vê-lo novamente.
Entrei pela sala enquanto ela seguia-me ralhando comigo. Acertou-me ás costas com a vara verde e neste instante vi a pá, instrumento de trabalho de meu avô, encostada no canto. Peguei-a enquanto a velha tentava fazer com que minha atenção fosse voltada a ela novamente acertando-me mais uma vez.
Que barulho sublime foi o do metal contra o osso!
Acertei-lhe a cabeça enquanto ela ainda falava. Caiu no chão em meio a convulsões e então lhe acertei novamente no rosto. Não sei dizer quantas vezes repeti o mesmo ato, mas quando terminei ninguém poderia reconhecer a velha senhora irritante. Se ela gostava de marcar-me com as varadas, posso garantir que a marquei muito mais.
Percebi que alguém me observava.
Na porta, parado em estado de choque, estava meu avô. Ele tentou correr, mas, coitado, estava velho e eu o alcancei sem dificuldades. O acertei pelas costas com o mesmo instrumento que ele machucava a terra e ele chorou, implorou pela vida.
Posso dizer que nunca vi ação tão bela.
Quebrei-lhe o braço com a pá e me excitava em ouvir seus gritos. Quando o segundo braço foi quebrado ele desmaiou em meio à dor. Matei-o da mesma forma que a esposa, lhe deformando o rosto, observando os dentes que ainda restavam voarem a cada pancada, o sangue saindo em monte, como se estivesse aflito por liberdade.
Vendo aquele maravilhoso líquido escarlate sabia que não era o suficiente. Ainda não me sentia satisfeita. Recolhi a pá e desci a colina.
O primeiro que encontrei foi um trabalhador, de início tinha a expressão feliz, mas logo o horror tomou conta de seu rosto, pois se deparou com meu vestido manchado com o vermelho vivo e a pá com a mesma cor em minhas mãos. Era claramente um fazendeiro, provavelmente voltando para casa. Chegou a cumprimentar-me, receoso. Acho que me conhecia, deve ter dito algo idiota como: “Você está bem?” Porém não o escutei ou reconheci. De qualquer forma, não importava. Derrubei-o com pá com o impacto na cabeça. Ao contrário da velha fraca este não sofreu convulsões, apenas parecia um tanto tonto. Aproveitei da lerdeza e perfurei seu pescoço com a pá. Não era um bom instrumento de corte, portanto tive que acertá-lo muitas vezes até decapitá-lo. Acredito que não sofreu muito, pois logo desmaiou o que era uma pena.
Descobri que me deliciava com o sofrimento alheio.
Estava indo em direção contrária à cidade, porém existiam algumas casas isoladas, com seus fazendeiros e família com a vida simples e sem graça. Chegando a uma dessas casas encontrei uma criança. Ela pareceu mais curiosa do que assustada em ver-me. Foi a primeira e última vítima que tive receio de fazer mau, porém não poderia poupá-la. Não se quisesse cumprir meu objetivo. Acertei-a nas pernas a derrubando. Ela chorou e gritou pela mãe. Que som maravilhoso!
Ouvi movimentos na casa próxima e percebi que uma mulher aproximava-se horrorizada. Vinha correndo salvar o filho. Tola. Ataquei-a no rosto para que parasse de gritar. Foi esperta e conseguiu escapar não recebendo todo o impacto, porém foi o suficiente para deixá-la sem reação por algum tempo. Quebrei-lhe as pernas enquanto a criança gritava. Não sabia ela que os seus gritos não faziam nada além de dar-me forças para continuar? Deixei-a quase inconsciente, e caminhei em direção a criança. Ela gritou pela mãe, pelo pai e pediu-me um favor: para não matá-la. Não podia concedê-lo – respondi – necessitava do sangue dele em minhas mãos. De início ele continuou a gritar enquanto lhe esquartejava da melhor maneira possível com um instrumento como aquele, mas diante da dor, logo parou e tenho a impressão de que não sofreu o suficiente. Talvez o fato de ainda ser uma criança tenha feito que Deus tivesse misericórdia de sua alma. Porém isso não era da minha conta, não acreditava em Deus de qualquer forma.
A mãe ainda estava viva, com a boca sangrando balbuciava algo que não podia entender e também chorava. Havia matado sua preciosa criança. Sentei-me a sua frente por um tempo, observando calmamente sua expressão de horror, sofrimento, ódio todos aqueles sentimentos guardados naquele olhar que desejava matar-me, assim como fiz com seu filho.
Esperei sentada pensando que mais alguém chegaria, mas acabei por acreditar que o marido, o pai da criança, era o homem que havia matado no caminho mais cedo. Levantei-me e movida de misericórdia matei-a. De nada adiantava continuar viva. Não havia perdido tudo o que amava?
Lembrei-me do Einherjar e voltei a chorar. Adentrei a casa de minhas vítimas e lá me sentei em sua espera.
O Einherjar fora escolhido por ser um ilustre assassino. Agora eu havia me tornado uma. Poderia ser buscada e levada para junto dele novamente.  Porque, que motivo teria para viver além daquele de sentir sua pele novamente, de ver o seu sorriso e sentir seus lábios junto aos meus?
Sentei-me aguardando a bela mulher a me buscar, assim como havia dito. Tinha certeza que seria escolhida. Nunca fizera algo de tão belo na vida.
Aguardei calmamente enquanto me deliciava com o cheiro de sangue em minhas roupas.
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Naquele mesmo instante, há alguns quilômetros a oeste, a cidade amontoava-se em frente à TV para ver a prisão e execução de um dos maiores assassinos da história. Havia fugido do hospício em que fora internado e voltado por conta própria dizendo que estava pronto para o Ragnarok. Todos observaram o grande homem, com várias cicatrizes pelo rosto, entregando-se calmamente e sendo capturado por policiais afoitos e assustados.
O homem que havia assassinado 46 mulheres enquanto caminhava de cidade em cidade, estado a estado. Porém estava feliz em ter encontrado o que sempre procurou: uma filha de Freya.
Aceitou de bom grado a morte e seu último pensamento foi que logo se encontraria com Odin e lutaria ao seu lado no inferno, no fim do mundo, juntamente com seus irmãos, os Einherjar.

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Dois dias passaram-se até que dessem falta dos velhos que viviam na casa da colina. Alguns homens foram em sua procura e encontraram os corpos cobertos com moscas em fase de putrefação. A cidade nunca vira tamanha atrocidade e alguns deles vomitaram diante dos mortos. Faltavam-lhes alguns pedaços, comidos por cachorros e animais selvagens famintos.
Os mais bravos e com estômago mais forte seguiram uma pequena e quase nula trilha de sangue seco. Elas levavam a mais um morto com estágio de putrefação como os outros, porém ao chegar à casa do fazendeiro, até mesmo os homens mais bravos beiraram a insanidade.
Que animal, que monstro poderia ter feito tal atrocidade com uma criança e sua mãe?
Estes corpos também estavam com algumas partes faltantes, porém diferente. Não foram feitos por dentes de um animal selvagem, mas por um objeto cortante.
Acabaram por descobrir que a menina, tão bonita, comparada a um anjo por todos na cidade, havia cortado partes do corpo de suas vítimas e as comido.
Acreditava que se alimentando da carne que ferira, teria mais chances de ser levada para seu amado com mais rapidez.
Acharam-na em meio à sala, sentada ao chão, imunda, com os cabelos que costumavam ter um cacheado ouro perfeitos, completamente desgrenhados. Parecia catatônica, mas ao tentarem levantá-la, perceberam, tarde de mais, que ainda carregava consigo a faca usada para partir pedaços dos mortos, que usara para alimentar-se como alguém que prepara bifes para a janta.
Matou o homem que a ajudava tão rapidamente que nada puderam fazer. Cortou-lhe a jugular e foi manchada mais uma vez com o sangue. Mataria quanto mais pudesse, quantos fossem necessários.
Os dois homens restantes, receosos e religiosos, não se atreveram a aproximar-se novamente da menina. Acreditaram que era uma bruxa ou que simplesmente fora tomada pelo maligno.
Procuraram pela casa, atentos a qualquer sombra e ruído, por óleo de lamparina. Todas as casas na cidade possuíam um estoque e tiveram sorte, o estoque desta estava no máximo.
Preencheram a casa com óleo enquanto a menina nada fez. Apenas permanecia sentada, aguardando.
Atearam fogo á casa e lhe deram a morte que toda bruxa merecia.
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Os malditos. Atearam fogo a casa. Mas do que adianta levantar-me e lutar? Se for dessa maneira que devo me encontrar com o Einherjar, que assim seja. Não irei fazer menção de levantar e correr. Percebo que não me importo com a dor em meu corpo. Nada pode se comparar a dor pela falta do Einherjar. Deito-me e aguardo as chamas tomarem conta de mim.
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Aguardaram do lado de fora, prontos para defenderem-se caso a garota saísse em seu encalço, porém nada aconteceu. Não houve gritos e muito menos perseguições. Ela apenas aceitara a morte. Talvez, no final, arrependida de seus atos. Fizeram o sinal da cruz e voltaram á cidade.
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Amanda permaneceu deitada por dias, semanas, como lhe pareceu. No começo a dor a açoitou, mas logo se foi. Quando se achou preparada, abriu os olhos e o que viu fez seu coração saltar.
O Einherjar. Estava de volta e sorria para ela.
Sorriu de volta e levantou-se, aninhando-se em seu abraço.
— Sabia que você viria meu amor.
— Quanta falta senti!
— Oh, eu também minha querida. Porém não podemos comemorar agora. Não ainda. Percebes que ainda estamos em batalha, em meio ao Ragnarok.
Amanda olhou ao redor e tudo o que viu foi sofrimento, dor, desespero e aflição continuamente, mas não se importou.
Acenou positivamente ao Einherjar e ele a tomou pelas mãos e caminharam juntos em meio ao sofrimento.
Havia conseguido. Fora escolhida e por mais que estivesse no inferno, não se importava, pois ao seu lado mantinha o homem que amava. O que chamava a si próprio de Einherjar.


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